No passado Carnaval assistimos, mais uma vez, às danças carnavalescas à moda da Ilha Terceira, uma tradição enraizada há muitos anos pela gente oriunda daquela ilha dos Açores e que se carateriza por comédias que retrata o nosso dia-a-dia.
Sabemos que antes do 25 de Abril de 1974 estas danças tinham obrigatoriamente que apresentar os temas à censura da ditadura de Salazar e não foram poucos os que foram incomodados pela polícia política de então, a tenebrosa Pide, após passarem as cenas só porque alguém teimosamente, ou por ingenuidade, não seguiu os escritos, sendo detido após o final. Segundo me referiram alguns aficcionados destas expressões do tipo revista do Parque Mayer, de Lisboa, houve uns quantos casos das cenas serem interrompidas pela polícia e todos os seus interpretantes e autores detidos.
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Para aqueles que desconhecem esta cultura terceirense informamos que nestas danças tipo teatro com os seus músicos e bailarinas/os, se critica dentro das suas encenações a vida social, os políticos, as autoridades, o clérigo, a vida conjugal, os amores de perdição e o adultério e as mulheres, e homens também, de vida dupla e mundana e à critica no assunto da imoralidade. É o que dizemos, fartar, vilanagem, no estilo de vida da sociedade dos nossos tempos.
Estranhámos só haver quatro danças no corrente Carnaval quando não há muito tempo se contava pela dúzia ou mais fora as que vinham da Ilha Terceira, dos Estados Unidos e até de Montreal. Os salões que se enchiam totalmente não tiveram a participação que estávamos acostumados também possivelmente, pensamos, ter ficado a dever-se ao nevão e mau tempo que se fez sentir nesses dias com quase, ou mais, dum pé de neve, acumulado no solo em apenas 48 horas.
Vimos duas, a do "Bar a Nossa Gente" e do "Petisco". A primeira sob a temática "As pupilas do senhor reitor" que focava estudantes dos Açores na Faculdade de Coimbra tendo um deles "caído" de amores pela filha do reitor. Esta comédia actuou sob a liderança, e pandeiro, pelo talentoso jovem Ronaldo Homem, um elemento que anda nestas andanças desde os dois anos de idade.
Vamos esperar pelas danças da Páscoa, outra tradição da Terceira, em grande parte composta por dramas e algumas de espada. Não somos naturais daquela Ilha mas ao longo destes 30 anos temos sido sensibilizados por assistir às suas danças e confessamos gostarmos imenso não só pela sua coreografia nas danças mas também aos seus trajes, a música alegre e as suas quadras "apimentada". Tudo é alegria e...malandrice!
Viva o Carnaval Terceirense. Que não "morra" pois, pelo contágio, esta cultura já nos corre nas veias também.
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